segunda-feira, 8 de junho de 2009

Jaculatórias

Senhora inspiração
milagrosa e parteira
sede nossa guia
na mortal carreira

Ó virgem poieses
sacrário de amor
dai n’alma desvalida
vosso poder no labor

Ó verve criativa
fiel e seguro norte
Dai-nos graças, di-vida
favorecei-nos na morte

O palavra concebida sem percauço
Rogai por nós que a lemos
E por todos que não lêem
Nenhum clássico dos tempos

Leitor Misericordioso
Eu confio e espero por vós

Malogrado critico literário
Eu confio e espero por vós

Doce e leitora família
Sede a nossa salvação

Imaculada rainha palavra
Dai-nos a paz

Ilimitada linguagem
Sede a nossa salvação

Zeus, pai do ocidente
tende piedade de nós

Nosso Leitor Bom Juiz
tende piedade de nós

Divino Espírito Crítico
tende piedade de nós

Santíssima Linguística
tende piedade de nós

Divino Espírito Crítico, iluminai-nos, julgai-nos, dai-nos sabedoria, discernimento, humildade e pureza na produção

Leitor, ávido e exigente, fazei os nossos olhos semelhantes ao vosso

Nossa Semiótica Senhora,
providenciai

Sagrado ímpeto de Leitor que tanto nos lêem, fazei que eu escreva cada vez mais

Leitor inveterado,
nosso EU amado

sábado, 6 de junho de 2009

Medo

Por medo
Um homem se isola

Forte é
No primeiro, segundo, terceiro...

Invernos

Assim
Imponente e inabalável
Prevalece a solitude finita

Até o verão...
Da próxima angústia

Palavra

Primazia da palavra sobre a espécie
Calvário dos diabos
Escaravelhos e peçonhas
Astutos homens-letras
Feras e chacais
Chame leões

Em chamas...
Beatnik amante do caos
Divãs, trapézios e tradições
Emplasto de sábios e sabiás
Sóbrios às sombras

Escribas
soropositivos
Papiros e papelões

Células

xx xy xxy xyx

Darwin à direita
de teus pais
Todos poderoros

Histéricas inseminações

Termodinâmica dos choques

Lobotomia

Navego em loucos navios
Onde nós, cromossomos absurdos
Erramos a esmo

Erasmos

Rotary’s e Roterdãs

Rodopios

Mefistos e gigolôs

Vaidade
No centro do universo

Luxúria
No sexo dos centros

Eu, garanhão dos sentidos
Dê-me tua boca para que eu-falo
Tua língua
Vulva massa
A golpear virilhas

testemunho de uma em mil noites
E “cherazeite”
A mulher de meus sonhos

Olívia
Espero que não dê
Nem ânus, nem ovídios
Aqueles que não amam

Poesia

Costuro o lábio nos dentes...

- Start -

A máquina de silêncios

Haigduyekhtiouijtliuihjjkljjgarejf.,
Nkueywfhgfenjfjilerhjgejklrjkljh
Ngfguyryjwrqeqav,h~çíp´li]õi~´=-


Type and writer


Haldol?

Coivara

Suspiro as folhas da tradição e cada verbo é pálpebra
Fogo no ventre da palavra e véu na teia do arco
Flecha na íris
Sopro à nuca de gaia

Orchrestra de gravetos, tesos, flamejantes

Tentáculos polvilhando sementes
Brotos de suor
Miocárdio, roça elétrica

Atômico coração da terra
atom earth mother nos tímpanos
Bombardeando a horta

Gafanhotos luminosos picam áspero alumínio

Onde disparo

Meu arado lírico:

Ceifa ceifa ceifa ceifa
Ceifa ceifa ceifa ceifa
Ceifa ceifa ceifa ceifa
Ceifa ceifa ceifa ceifa
Ceifa ceifa ceifa ceifa
Ceifa ceifa ceifa ceifa
Ceifa ceifa ceifa ceifa

Foice












































O tempo dos fracos

Nós

Nós,
Cidadãos do campo
Iguais,
Irmãos

Nós,
Que acordamos com a enxada nos dentes
E almoçamos à trítono
O clitóris urbano

Nós,
Que temos o sumidouro no esôfago
E sopramos as tetas de veludo
Mastigando a silhueta do mel

Nós,
Que cremos em cátedras e milharais
Nos espantalhos em traje de gala
A gotejar o sangue das chuvas

Nós,
Que fritamos as ervas
E danamos joaninhas
Empalhadas no umbigo

Nós,
Ultravioletas
A batear vaidades
Nas peneiras de sol

Nós,
Zangões do espaço
A polinizar vertigens
Nas bateias de lua

Nós,

Hipócritas escribas
Que deitamos a caixa de ossos
No cobre das escrituras

Nós,
Acidentes da matéria
Irrigados de mares mortos
Dilúvio das orações

Nós,
O rosário do descaso
Desatadora, nossa senhora
Rogai por...

Voz

A gritar no vazio
































Do homem

terça-feira, 3 de junho de 2008

Cansei!

(*)
oh! dor que arde em meu peito
diga se eu verdadeiramente seria
tristonho como uma vaca
se profanasse a rotina

cansei da ordem das coisas
dos astros dos anos e asnos
que delimitam fugazes, meu tempo de vida

cansei do bailar pendular
que alterna as noites e dias

cansei de joão e maria (da lua) bonita
de histórias floridas
das moças perfeitas
do beijo engasgado, que perdi um dia;
dos sorrisos falsos
daquelas meninas, que por vez ou outra, poderiam ser minhas

cansei de organizar gavetas e livros na estante, e discos na vitrine e perfumes no container;
de fazer ginástica para perder a barriga
da vaidade que me tira a gordura e (a) proteína;
de todas as burro-cracias, tão necessárias, hoje em dia.
cansei de ter que escrever poesia bonita, com rima;
dos "cidadões" literatos, bem sucedidos;
academicistas
cansei da linguagem polida
deste poema
provavelmente
o "mais-maior"
de toda minha vida

e das estrofes separadas, como as de riba;
cansei da comida
que poderia, ser ou não fria
cansei de fazer papel de bonzinho
de ser educado
ser polido
todos os dias
cansei de agredir a mim mesmo com essa droga de rotina
de ler poetas famosos
que poderei, ou não,
superar um dia
cansei dos filósofos (que malham) na academia
e de tentar abordar aquele olhar promissor da fisiculturista
de beber vinho
fugir
dançar
de parir a mentira
cansei de fingir que perdôo
aquilo que sei (fingindo) que não sabia
cansei da tv brasileira
da cor
baranga da nicotina
dos casamentos alheios
que são, para satisfazer a família;
de ouvir besteiras
das mentes dos gênios de hoje em dia
cansei do jornal
e do cara escroto da banca de cima
cansei dos marmanjos folgados que vendem maconha na esquina
do capoeirista
que se acha o foda e "morde" as "mina"
do latido estridente
do cachorro de rua
que adotou a vizinha
cansei cansei cansei cansei cansei cansei cansei cansei cansei cansei cansei cansei cansei cansei cansei cansei cansei cansei cansei cansei cansei cansei cansei cansei cansei cansei cansei cansei
de escrever vinte e oito vezes
esta palavra de cima
cansei de ver o boizinho engravidar a menina
de duvidarem (e por isso, ter eu que provar)
ser bom guitarrista
de ver banda tocar em churrascaria
gente arrotando
palitando os dentes
pedindo "raul"
(ou) vindo-buzina
cansei do olhar torto do gerente de banco
que não acredita "na" fantasia
de professores toscos
em jantares a dois
com a dona patroa
no bar da esquina
cansei desta droga de insatisfação
que parece gostar
de minha companhia
cansei de ser guerreiro
sem armadura
sem cavalo
sem exército
e sem dia
cansei deste desabafo
que poderá ou não
agradar a retina
das falsas beatas, divinas!
que falam pra mim
como fazer, pra ser salvo um dia;
cansei de espíritos brincando de espíritas
de sensacionalismo barato
e fingimento
elitista
cansei das correntes de sete orações e cajados mágicos
que curam o câncer e trazem a vida
dos gritos de louvor desafinados em periferias
dos cento e quarenta e quatro mil salvos
e eu não estar na lista
cansei de dois homens vestidos iguais...
que andam de dia
de "ter", ou dizer, "tinha"
de ser dizimista
cansei de não ter, certificado de reservista
das multas de trânsito
magníficas
cansei do pãozinho mucho e da cara amarrada
daquele dono "fudido" da padaria
cansei cansei cansei cansei cansei cansei cansei cansei cansei cansei cansei cansei cansei cansei cansei cansei cansei cansei cansei cansei cansei cansei cansei cansei cansei cansei cansei cansei
de repetir nova-mente
esta estrofe ridícula
cansei de ter que dar uma pausa
para levar a fita
que o cara da locadora, me cobra todos os dias
cansei da fisioterapia
da garota de branco nutricionista
da atendente, que já poderia ser minha
dos gatos malhados, ou pardos, de todas as esquinas
cansei de acordar
com a mesma cabeça, todos os dias
de sentir culpa
por gostar de brincar
na região da virilha
cansei de sentir-me feio para chegar na patrícia
de ser valorizado, de frente ao espelho
e ter ego inchado somente na pia
cansei de ter que avisar
a que horas eu chego
no outro dia
cansei da mania de ser egocêntrico, sistemático, exigente, artista
e gostar mais da beleza, do que de gente bonita
de ter o estranho costume
secundarista
cansei de escrever um pouco
só por mania
e de pensar se seria ou não
reconhecido
um dia
cansei de achar que isso tudo é uma reles fantasia
e que a donzela encantada
será apenas: uma poesia
cansei!

(*)dedicado à rotina: a mais cruel das repetições

terça-feira, 6 de maio de 2008

Negro vestido, costas à mostra

Negro vestido, costas à mostra
flor da montanha
boca de rosa
fome do corpo
casta ditosa
dia vermelho
fome amarela
pequeno desejo
grande janela
sede tinhosa
Negro vestido, costas à mostra
pedra de toque
curvas em choque
suor atrevido
gaita de foles
sons de limpeza
ossos de cobre
cama da alma
mente fogosa
Negro vestido, costas à mostra
assaz perigosa
a rua de pele
a placa de pare
o seio vermelho
os lábios em rosa
Negro vestido, costas à mostra
atrás da porta
nervos em trapo
a fome singela
um homem cansado
a tarde donzela
a lua chorosa
Negro vestido, costas à mostra
fome sede escama
peixe flor e água
terra mar piaba
semente fossa goiaba
camisa azul cantiga
sabão pia piada
calo faca corte fala
tião joão fogão comida gelada
fome do corpo, sede da alma
gosta?
Negro vestido, costas à mostra
homem triste
mente cansada
poema atrevido
telha molhada
cabelo negro
luz apagada
fruta docinha
língua virada
pele de âmbar
mente afogada
caroço moído
fruta gelada
pimenta do reino
cheiro de palha
vida da terra
e noz moscada
caminho incerto
estrada errada
camisa de linho
taça gelada
guerreiro da vida
dama esperada
subindo o vento
subindo a escada
ave no céu
asa afogada
vôo de deus
navalha ferida
pele sangrada
gosta?
Negro vestido, costas à mostra
espólio esposa sorriso e goza
vida morada vitória derrota
caminho distância estrada nervosa
mistério divino, pergunta teimosa
homem resposta
Negro vestido, costas à mostra